Coimbra Editora, Coimbra, 1953. In-8º de 211-(1) págs. Brochado com a capa anterior ilustrada por Victor Palla, apresenta ligeiro e insignificante defeito na cabeça da lombada, sem perda de papel.
INVULGAR PRIMEIRA EDIÇÃO deste apreciado livro de Carlos de Oliveira e também um dos mais representativos romances de referência para o século XX português. Conheceu sucessivas edições revistas até 1981, ano da sua morte. Foi ainda, em 1971, objecto de um notável filme de Fernando Lopes.
"... Pelas cinco horas duma tarde invernosa de outubro, certo viajante entrou em Corgos, a pé, depois da árdua jornada que o trouxera da aldeia do Montouro, por maus caminhos, ao pavimento calcetado e seguro da vila: um homem gordo, baixo, de passso molengão; samarra com gola de raposa; chapéu escuro, de aba larga, ao velho uso; a camisa apertada, sem gravata, não desfazia no esmero geral visível em tudo, das mãos limpas à barba bem escanhoada; é verdade que as botas de meio cano vinham de todo enlameadas, mas via-se que não era hábito do viajante andar por barrocais; preocupava-o a terriça, batia os pés com impaciência no empedrado.
Tinha o seu quê de invulgar: o peso do tronco roliço arqueava-lhe as pernas, fazia-o bambolear como os patos: dava a impressão de aluir a cada passo.
A respiração alterosa dificultava-lhe a marcha.
Mesmo assim galgara duas léguas de barrancos, lama, invernia.
Grave assunto o trouxera decerto, penando nos atalhos gandareses, por aquele tempo desabrido. ..."
O casamento de Álvaro e Maria dos Prazeres é infeliz, como tantos outros que se eternizavam no Portugal medíocre de Salazar. As fidalguias viviam de aparências, a fingir e a calar para manter o património intacto. Todavia, o romance “Uma abelha na chuva” de 1953, faz o amor nascer entre uma criada e um motorista, à margem das regras sociais.