
Coimbra, (Coimbra Editora, Ldª), 1949 (e 1967). In-8º de dois volumes 193-(I) e XXXVIII-197-(3) págs. respectivamente. Brochado, com todos os cadernos por abrir. Exemplar do primeiro volume é de uma tiragem reduzida de 500 exemplares, levando o presente o nº 347 e 378, respectivamente. Capas e miolo em excelente estado de conservação. Muito invulgar.
Ambos os volumes são da EDIÇÃO ORIGINAL cujos títulos foram publicados com uma diferença 18 anos depois, em 1967. Difícil de reunir quando, como a presente, ambos em primeira edição.
Do prólogo:
" ... Resistamos à ilusão de supor que tudo pode ser inundado de luz. Deixaríamos de ver. Recusemos o absoluto humano de Calígula, a tentação da unidade a todo o custo, uma vez que sabemos ser a unidade o pretexto do imperador louco para cortar a cabeça ao povo romano. No plano do conhecer ou no plano do agir, na filosofia ou na política, o homem é uma realidade dividida. O respeito pela sua divisão é Heterodoxia. ..."
"Eduardo Lourenço desenvolveu, assim, a sua visão do mundo, da sociedade e das artes, onde se destaca a reflexão sobre a poesia portuguesa, em autores como Camões, Antero e Pessoa - entre muitos outros -, onde o estabelecido, o pré-concebido e o ortodoxo são questionados. No prólogo à sua primeira obra, Heterodoxia I, vê o conceito assumido como título inaugurador do seu projeto de pensamento como simbolizado na serpente Migdar (Midgard), que devora a própria cauda, vislumbrando-a como a unidade dialética dos opostos: vida-morte, bem-mal, senhor-servo, virtude-vício, palavra-silêncio. Na sua leitura, a heterodoxia é a "paixão circular da vida por si mesma" no movimento constante de morder e ser mordida, que não se reduz à cabeça que devora e à cauda que é devorada, escapando a todas as ficções da ortodoxia - a certeza de existir um só caminho - e do niilismo, a convicção inversa de não haver caminhos. Heterodoxos são assim "os eternos descobridores dum terceiro caminho", aqueles que assumem a liberdade latente em todos os humanos e cultivam "a humildade do espírito, o respeito simples em face da divindade inesgotável do verdadeiro ...". (Biblioteca Nacional)